ALCIDES ABRE A BOCA NO "O POPULAR"

Em silêncio desde que deixou o governo, em dezembro, Alcides Rodrigues (PP) julgou que chegou o "momento oportuno" de falar. A principal motivação foi a rejeição do balanço de 2010 por parte do Tribunal de Contas do Estado, fato inédito em Goiás. O pepista afirma que nunca houve tanta perseguição a um ex-governador e acusa o governo de querer desviar o foco para a "inoperância" da gestão. Antes de conceder a entrevista exclusiva ao POPULAR, na produtora Kanal Vídeo - de propriedade do ex-secretário Jorcelino Braga -, Alcides fez a barba e cortou o cabelo. Disse que, desde os tempos de estudante, fazia a barba todos os dias e que, como tirou "as primeiras férias" de sua vida, resolveu se livrar da obrigação. Na entrevista de uma hora, ele afirmou que não pretende disputar mais cargos eletivos. Veja os principais trechos. Alcides rodrigues

Nos últimos cinco meses, o senhor se manteve em silêncio diante de intensos ataques do governo atual à sua gestão. O que acha dessa sucessão de críticas?

De uma coisa, estou certo: nunca houve em Goiás uma perseguição tão grande a um ex-governador. Estou sendo vítima de ataques pessoais e à minha administração. O que está ocorrendo é absurdo e até incompreensível porque um governador tem de agir sem ódio, sem rancor, sem vindita. Tem de procurar governar olhando para frente. Temos um povo extraordinário, que precisa de um governo que trabalhe, que não procure mentiras até para encobrir a inoperância do próprio governo. Uma liderança sindical disse há poucos dias, até no POPULAR, que nunca se arrecadou tanto. Não estão faltando recursos. O que está faltando é operosidade administrativa. Todos esperamos que o governo seja operoso, que apresente bons resultados. É isso que todos queremos, e não uma perseguição tão diabólica e tão explícita a um ex-governador. Isso serve para camuflar os resultados negativos que em tão pouco tempo ocorreram no Estado. É comum lideranças, populares, dizerem que estão decepcionados com este governo, que aumentou impostos, que tirou subsídios que proporcionam o desenvolvimento do Estado, que aumentou ICMS atingindo pequenas e médias empresas, que está perseguindo pessoas ligadas ao ex-governador e não dá atenção até àqueles que ajudaram a elegê-lo. Estão descontentes porque as promessas foram inúmeras. É interessante que geralmente o desgaste começa a aparecer com oito meses, um ano. Então tem gente que não está com essa bola toda. A população já está vendo que houve muita enganação, muita mentira e muita tapeação. Queremos que o governo cumpra obrigação de governar, e bem. E não procurar 24 horas por dia atingir pessoas que já cumpriram com seu dever de governar o Estado.

O senhor repetiu por várias vezes que deixaria as contas no azul, equilibradas. Mas deixou déficit, incluindo parte da folha do funcionalismo sem ser paga. Por que isso ocorreu?

Sem dúvida nenhuma deixei o governo bem melhor do que aquele que recebi. Com relação ao restante da folha de pagamento, eu agi como aconteceu quando recebi o governo. As contas não estavam totalmente pagas e eu tive de pagar. Cerca de 20 dias antes de me entregar o governo, houve antecipação de receitas, eu fiquei até dezembro de 2010 pagando para resgatar esse compromisso. Além do mais, eu sabia que o restante da folha do ano passado seria alcançado até o dia 10 de janeiro. Como disse o próprio atual secretário da Fazenda, não há atraso até dia 10. Sabíamos que R$ 384 milhões entrariam no caixa e dariam para pagar o restante da folha. Este valor era referente a dezembro, que nós trabalhamos para ter. Cumprimos com nossa obrigação.

O governo atual afirma que o sr. deu preferência ao pagamento de empreiteiras em vez do servidor.

Temos recursos carimbados que têm finalidade específica. Há fundos e recursos da Agetop e do Detran que têm de ser aplicados em obras rodoviárias. Esses recursos não poderiam ser direcionados para outra finalidade, como pagamento de pessoal. Nós cumprimos com a lei. Pagamos os empreiteiros, prestadores de serviços, até porque foi dito a eles que se alguém tivesse para receber do governo que estava findando, ia falir, porque não ia haver pagamento. Deixamos inclusive R$ 85 milhões para pagamento de obras rodoviárias no atual governo. Eu quero ver se então ele vai pegar esse recurso e pagar funcionário em vez de empreiteiras, se há finalidade específica. Em obras rodoviárias, fizemos mais que os dois governos que me antecederam. Em saneamento foi mais que o dobro de aplicações em obras. Fizemos muito, não fizemos foi propaganda.

Mas houve um aumento considerável em gastos com publicidade no último ano de seu governo.

Se formos comparar o que foi gasto em nosso governo e naquele que nos antecedeu, há um disparate muito grande. Não tem nem como comparar. É bom lembrar que pegamos restos a pagar de R$ 1,1 bilhão. E pagamos. Não ficamos falando de déficit, não propusemos CPI na Assembleia. Pagamos também R$ 1,2 bilhão de recursos da Celg que ninguém sabe onde foi parar. Absorvemos a dívida que não havia sido contabilizada. Quando assumimos o governo, não tínhamos limite de endividamento de meio centavo. E chegamos a quase R$ 5 bilhões. Não é pouca coisa. Avançamos muito. A Secretaria do Tesouro Nacional manifestou que cumprimos com nossas metas fiscais com louvor e com antecipação.

Mas no ano passado, o Estado não conseguiu cumprir essas metas, o que compromete este ano o limite de endividamento.

Olha, eu avisei várias vezes ao setor produtivo, a todos os Poderes e à imprensa, da dificuldade que o Estado teria no futuro para cumprir suas obrigações caso não fosse resolvido o problema da Celg. A solução estava pronta, prontinha para o repasse dos recursos. Seria um negócio de mãe para filho. No entanto, tivemos ingerências para que não ocorresse. Para provar tenho em mãos documentos enviados pelo governador eleito ao governo federal e à Caixa dizendo que não iria cumprir caso a negociação ocorresse. Então por que o governo está tendo dificuldades? Porque antigamente fazia antecipação de receitas com a Celg. Agora é impossível porque a Celg não está dando conta nem de pagar aquilo que é devido ao Estado. Tivemos R$ 900 milhões a receber da Celg no nosso governo. Chegamos ao que seria a redenção do Estado. Seria excelente para o atual governo também, que receberia recursos. Pagaríamos as contas da Celg sem vender a estatal, sem vender as ações, sem ser federalizada. Era um patrimônio do Estado que ficaria assegurado. Eu avisei. Por que o governo hoje está sem rumo, sem norte, não sabe o que faz? É por culpa dele próprio. É porque, por vaidade pessoal, ele cometeu um crime de lesa-pátria com a não negociação da Celg. Essas são verdades, que precisam ser ditas, e não mentiras deslavadas para mudar a atenção dos goianos com relação à falta de rumo do governo.

A Secretaria da Fazenda tem informado que, mesmo se o acordo da Celg tivesse sido fechado, ainda haveria déficit.

Não, não. Isso não existe. Eles estão completamente equivocados. O próprio secretário disse que havia menos de R$ 600 milhões para pagar, incluindo a folha do funcionalismo. Houve o depósito de R$ 384 milhões. Então ele não pagou porque não quis. Para procurar colocar a culpa no meu governo, para me acusar de não pagar o funcionalismo. Para onde foram esses recursos, eu não sei. Mas havia dinheiro suficiente para quitação imediata da folha de dezembro. Por que até dia 31 de dezembro tudo estava correndo bem, os servidores e os prestadores de serviço recebendo em dia, a organização administrativa funcionando em todos os lugares, e, de repente, tudo desorganizou, de uma hora para outra? Por quê? Há um ponto de interrogação. Creio eu que não houve interesse de pagar a folha.

Por que o sr. não disse isso, que havia previsão de recursos a serem depositados para a folha, quando deixou o governo?

Acho que não era o momento. Nós devemos respeitar o resultado das urnas. E não cabe a nós contestar a vontade da maioria. Me refiro aos 38% que votaram no atual governador. Ou seja, 62% dos eleitores não votaram nele. Mas mesmo assim, ele foi eleito e devemos respeitar. O meu silêncio neste período foi respeitoso. E eu esperava que ele entrasse e desse continuidade a tudo que fizemos. O que estamos vendo até o presente momento são inaugurações de obras do governo federal e do meu governo, que eu deixei e nem fiz questão de inaugurar.

O Tribunal de Contas do Estado aprovou parecer favorável à rejeição das contas de 2010. O que achou?

Eu sempre procurei ter relação respeitosa com todos os Poderes e instituições. Nunca procurei interferir e fazer pressão em qualquer órgão. Nunca procurei cercear a liberdade de imprensa. Nunca procurei perseguir jornalista. Sou um democrata. Pelo fato de não ter apoiado o governo que foi vitorioso, estou sendo alvo de todas as acusações. Estão procurando fazer um linchamento moral. Com relação ao que houve no TCE, eu gostaria de ter tido um tratamento igualitário com relação ao julgamento de outras contas públicas do Estado, principalmente do governo que me antecedeu. Mas eu não vou fazer nenhum comentário, até por respeito às instituições. Mas quero fazer das palavras do conselheiro Carlos Leopoldo Dayrell as minhas. Ele é concursado, dos quadros do tribunal, é uma pessoa de notório saber, é um catedrático, um professor respeitado no meio acadêmico.

As contas serão julgadas pela Assembleia Legislativa, que instalou a chamada CPI do Rombo, e a perspectiva é que sejam rejeitadas, o que pode render inelegibilidade.

Já ocupei muitos cargos públicos na vida, já fui deputado, prefeito, secretário de Estado e governador. Não estou preocupado com inelegibilidade, mas estou preocupado com a verdade. Estou preocupado com a forma com que será apresentada à opinião pública a verdade. Isso sim me preocupa. Se necessário for, irei até à última instância. Irei ao Judiciário, para proteger os direitos de cidadão, de homem público e de ex-governador do Estado. Eu cumpri meu dever, minha obrigação e disso eu não abro mão. Isso é muito importante para mim.

O sr. então não vai mais disputar cargo eletivo?

Bom, se deixarem, né? (risos) Eu não sei por que estão preocupados em me tornar inelegível. Há notória preocupação por parte do governo. Tanto é que está trabalhando e muito para que haja inelegibilidade. Mas, como eu disse, essa não é a minha pretensão. Nunca tive intenção de procurar o poder eternamente. Há pessoas que têm doença pelo poder, têm uma vaidade tão grande, tão doentia, que até preocupa. Querem alcançar seus desideratos a qualquer custo e a qualquer preço.

O sr. vai sair do PP?

Não estou preocupado com isso. No momento, estou na muda. Passarinho na muda não canta, não pia. Estamos numa conduta expectante. Quem sabe no futuro vamos discutir isso. Me impressiona o número de pessoas que estão me procurando, de forma explícita ou velada, procurando saber qual o caminho. Tenho dito que as eleições estão longe. A cada dia, o cenário muda, temos de aguardar. Eu nunca mudei de partido. Então pelo menos tenho história de coerência. Tenho história de respeito partidário.

O sr. se arrepende de algo em seu governo?

Não. Nada. Muitos me falaram: olha, você deveria ter aberto a boca quando assumiu, para mostrar tudo com números logo no início. Não fiz isso, não é a minha característica. Arregacei as mangas, não fiquei chorando, trabalhei, resolvi problemas e entreguei um governo com condições excelentes ao sucessor.

São poucas as vozes hoje em defesa de seu governo e do sr. Por quê?

Digamos que faz parte do jogo. Eu não persegui ninguém. Foi um governo verdadeiramente democrata. E as pessoas vão fazer avaliação no futuro. O tempo é o senhor da verdade e da razão. Ninguém gosta de governos prepotentes, arrogantes, que agem de uma forma que repudiamos, de uma forma de administrar que se aproxima do nazismo, querendo dominar a imprensa, querendo dominar tudo de forma que todos digam amém às suas vontades. Aliás houve tentativa disso quando assumi o governo. Não aceitei cabresto de ninguém. Outros aceitaram e aceitam. Dizem amém a todo momento, mesmo contra a vontade. Eu nunca disse amém e nunca aceitei ser cabresteado nem ser títere nem capacho de ninguém. Sempre fui assim, mesmo antes da vida pública.

Como foi esse período de despedida do poder, qual sua rotina?

A despedida foi a mais natural possível. Eu sempre tive muito desprendimento e nunca fui apegado ao poder. Eu saí como entrei, de cabeça erguida, e com sentimento de dever cumprido. Saí, fui cuidar da minha vida, descansar, tirar férias. Eu nunca havia tirado férias na minha vida. Estou mais perto da família, da neta. Fico em Santa Helena e na fazenda, vou ao Pará também. Estou colhendo, tenho lavoura e tiro leite também. E a vida continua. Estou procurando trabalhar, sempre de cabeça erguida.

Fonte: O POPULAR dia 22/05

2 comentários:

  1. Quero agradecer ao Dr. Alcides pelo cumprimento do pagamento das parcelas do aumento, pelas pistolas, viaturas, coletes, etc. Melhorou muito nossas condições de trabalho, pelas promoções, e o principal o extra remunerado que foi o marco na história das praças foi nossa alforria, muito obrigado! no final pisou na bola, mas ninguém é perfeito, que Deus lhe abençoei. De um praça PMGO.

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  2. Fraco!
    Nenhuma outra palavra o definiria tão bem quanto esta. Fraco!
    Do jeito que caminha este novo-velho governo, percebo que as perspectivas de melhorias é zero.
    Pura conversa fiada, este tal parcelamento do pagamento. O Itaú não parcela o que devo, a Celg não parcela o que devo, a Saneago não parcela o que devo, Se não pagar minha casa em dia é multa, Se o IPVA não for pago em dia é multa, ainda querem que achamos o que deste governo?

    Pura balelá!

    Wanderson Zucoloto

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