“Mesquita continuou o péssimo trabalho de Furtado”

 O final do ano passado foi um período de transição para o deputado estadual Major Araújo (PRB). Quase dois anos depois de estrear no parlamento apoiando o governo estadual, Araújo migrou para a oposição. Segundo ele, o que mais pesou foi o não cumprimento de compromissos que o governo tinha feito com ele na área da segurança pública. O deputado, contudo, não esconde que já havia uma dificuldade em defender o governo desde a deflagração da Operação Monte Carlo. “Desde os escândalos do Caso Cachoeira eu tenho me sentido constrangido em ser da base governista”, confessa. Em relação a sua área de atuação, a segurança pública, Major Araújo vê muitos buracos na cobertura policial do Estado. Para ele faltam investimentos, principalmente no aumento do efetivo da PM. Para o deputado, o secretário Joaquim Mesquita tem feito trabalho proforme. “O que ele fez? Não implantou um programa novo, não mudou nem as funções”, questiona. Major Araújo visitou a Tribuna na quarta, 6, onde concedeu a entrevita a seguir.

Tribuna do Planalto - O que levou o sr. a deixar a situação e ir para a oposição?Major Araújo - Quando fui convidado para fazer parte da base, nós selamos alguns compromissos com o governador. Ele me pediu que eu permanecesse na base, eu apoiei, mediante alguns compromissos. Mas a realidade é que nenhum desses compromissos foi realizado. Desde os escândalos do Caso Cachoeira eu tenho me sentido constrangido em ser da base governista, eu confesso. Eu não defendo o governo de Marconi Perillo (PSDB), desde esses episódios. Eu não tenho coragem. Então, já que havia esse desconforto, já que os compromissos não foram cumpridos.

Quais são esses compromissos que o sr. cita? São ligados aos militares?
Ligados aos militares e à segurança. Eu acho que o governo está passando em branco na segurança. Os jornais têm anunciado a redução do investimento na segurança, em relação ao governo Alcides e houve mesmo. Eu estou lá e sei. Por exemplo, no governo Alcides nós tinhamos os temporários que ajudavam muito. O Copom, 190, foi inviabilizado quando o Marconi assumiu e isso é redução de investimento. Planejamento não tem nenhum. Eu fui lá e fiz sugestões para a segurança pública que não foram acatadas. Minha campanha toda foi feita em cima de segurança pública e as pessoas me procuram. Do mesmo jeito que a gente vê tapa-buraco nas rodovias, tem também na segurança.

O Joaquim Mesquita assumiu a secretaria e o governo fala que os investimentos em segurança estão melhorando. Houve alguma melhora?
Eu lamento muito pelo secretário Joaquim Mesquita. Ele entrou e continuou o péssimo trabalho do João Furtado. O que ele fez? Não implantou um programa novo, não mudou nem as funções. Os auxiliares do João, continuam como auxiliares dele. Não mudou comando, não mudou nada. Então ele continua fazendo esse trabalho ruim. Não está fazendo nada, não tem autonomia. Ele tem reclamado de influência política e é algo que eu sempre levei ao governador. Por que o efetivo é ruim em um lugar e em outro é bem abastecido? Por que Catalão, por exemplo, tem bastante recursos e efetivos? Política.

Onde o político é mais forte ele leva os benefícios.Quais regiões necessitam mais de investimentos em segurança pública?
Eu acho que todo lugar está carente, mas temos dois focos de violência que precisam ser combatidos. Eu sugeriria até a criação de uma força, tal qual a Força Nacional. Cada policial da Força Nacional que vem para cá, fatura 3 mil reais de gratificação. Recebem diária e ficam dia sim, dia não. Eu sugeri ao governador criar uma Força Estadual, não do jeito que o comandante-geral fez com a criação de um batalhão chamado Core, que era de recobrimento. Ele tirou do interior, desfalcou regiões para cobrir a capital. Aí não. Estou falando no sentido de acabar com o que é mais gritante, porque hoje, o Estado está inviabilizado de prestar segurança pública. Em Itajá, por exemplo, que tinha 14 presos, e apenas um soldado sozinho à noite. Se tiver alguma ocorrência mais grave, tinha que chamar o comandante.

E quem patrulha a área rural? E os presos, quem olha?
Em Jussara, eles  têm duas viaturas na cidade e essas duas, atendem outras cidades ao redor. As estradas estão cheia de buracos. A Agetop está tampando buraco com terra. E aí a viatura tem que sair de uma cidade para outra, com a via toda inviabilizada. Agora veio esses concursos aí e para mim foi manobra da Segplan. Não tem outra explicação. Porque o Vecci é capaz de tudo. Não duvido de nada dele. Para economizar com salários eles fazem qualquer coisa. Não houve uma denúncia de fraude. Na prova dos delegados eles identificaram uma coicidência nos gabaritos. Isso pode ter sido feito de propósito, para ser identificado mesmo.Há uma crítica que no final do governo todos os concursados vão apenas substituir os que se aposentaram, ou seja, não vai ter aumento efetivo.
Outro dia fui a Ceres, foram 18 militares de uma única unidade se despedindo. E assim está em todo lugar. O problema é o seguinte: quando o Iris foi governador, nós tinhamos cursos em todos os batalhões. O militar se formava na cidade e a tendência era que ele permanecesse lá. Hoje, a formação foi centralizada em Goiânia. Aliás, foi o Demóstenes que criou esse negócio da academia única. Esse patamar de 12 mil homens foi o Iris que deixou.  No governo Marconi, são 16 anos de governo, pode contar nos dedos quantos concursos foram feitos. Ele prometeu que preencheria 8 mil vagas na PM. Foi compromisso de campanha. Nos dois primeiros governos dele, ele preencheu 2 mil. Isso só dá para repor os que aposentam. Com Iris, terminava um concurso, começava outro.

Qual é o déficit hoje?
É de 30.500 homens, mas temos só 12 mil. Então, temos déficit de mais de 18.

Em relação à região do Entorno de Brasília, que é muito violenta, como que é o dia-a-dia do policial que trabalha lá?
Para falar a verdade, o Entorno já foi pior. Trabalhei lá em 1996 e, na época, o local era bem desassistido. Tinha um batalhão para cobrir toda a região. Já está bem melhor, mas o problema é a mesma questão: tem muita gente para pouco efetivo. Não é tão diferente do restante do Estado não. O problema ali é a questão da divisa. O cara pulou a ponte ele tá no Distrito Federal e aí eu não posso passar para o DF e perseguir. Para mim, tem que ser feito um trabalho integrado com o DF. Muitos homens têm o sonho de ir para o DF. Aqui na região, os que não passam nos concursos de lá, vem para Goiás, mas continuam tentando lá. Então, quantos homens nós perdemos que vão para lá?

O sr. concorda que nem se o governo tivesse vontade, teria como empatar o salário? Porque a realidade do DF é outra.
Para mim, o que falta aqui é um governo que tenha compromisso com o povo. Minha decepção com o governo Marconi é a seguinte: ele só investe em obras e a gente sabe porque obras. O discurso dele de posse foi: “acabou o 'por fora'”, “acabou a propina”. Acabou não, pelo contrário. Eu não conhecia, mas aí veio o negócio do Cachoeira que mostrou muito bem como as coisas aconteciam.

O sr. não acha um discurso estranho para quem está tantos anos no poder?
Exatamente.

Então, o que eu noto por exemplo? O secretário Simão Cirineu falou esses dias que não tem dinheiro para investir em segurança, saúde e educação. Por que não tem?
São questões estruturais.

Para investir nisso, tem que investir na folha de pagamento: contratar professor, profissionais. Agora, o que dá lucro para quem quer tirar por fora?
É obra.

O sr. acha que o número de comissionados também é um mal do Estado?
Acho que governo que permanece muito tempo, vai ficando inviabilizado com o número de comissionados. Toda troca é boa.

Na visão do sr. por quê a violência explodiu de forma tão acintosa em Goiás nos últimos dois ou três anos?
Se o investimento cai, a criminalidade sobe. Nós não temos efetivo hoje para fazer trabalho de prevenção. Eu te convido para ir ao Copom e olhar se a viatura tem tempo de patrulhar. Ela não tem, está sempre atendendo ocorrência. O patrulhamento é o trabalho preventivo. Nós não temos, porém, investigação compatível. Os jornais divulgaram que 1.500 inquéritos de homicídios estão empilhados. Goiás, me parece, é o Estado onde houve o maior índice de impunidade. Se falhou a prevenção, vem a investigação. Primeira coisa a ser feita é tirar o elemento de circulação, desarmá-lo. Esse trabalho não está sendo feito.

É só ver o caso Valério Luiz, ou do advogado Davi Sebba. Um ou outro que dá destaque, todo o esforço da Polícia Civil se concentra nisso, mas e os homicídios de famílias de baixa renda, que ocorrem na periferia?
O incentivo para o matador é a impunidade. Eu só encontro um culpado, que é o próprio governo.

O episódio da retirada das assinaturas na Assembleia traz um acirramento na relação entre oposição e situação?
Com certeza, mas não é bom. O bom seria uma  convivência harmônica, pacífica e o debate feito com tranquilidade. Isso para mim é um escândalo, e todo escândalo ali mancha a casa e joga descrédito na Assembleia.
Todo esse episódio da retirada das assinaturas teve um lado positivo para obrigar a oposição mostrar uma atitude?
Quando eu fui para a oposição, eu fui cumprimentado pelas pessoas na rua, que diziam “parabéns, agora você está fazendo o que eu gostaria de ver”.

Agora, imagina essas pessoas que te cumprimentam, que te veem como oposição, de repente elas descobrem que são traídas?
O descontentamento é muito grande, mas eu posso dizer que fiz minha parte no sentindo de garantir às pessoas de que podem confiar na oposição. Respondendo sua pergunta, eu acho que sim, foi positivo para a oposição. Primeiro, para que a gente esclareça que tipo de oposição nós temos. A sociedade precisa saber isso e em quem da oposição ela pode confiar. Particularmente, eu achei até bom, pois quando eu fui para a oposição, eu disse a eles que iria fazer oposição de verdade. Quando eu estava na situação, eu vi acordos feitos pela oposição que eu não faria se tivesse na oposição e não vou fazer agora.O sr. foi para a oposição e tem feito críticas fortes ao governo, mas pertence a um partido que provavelmente não pensa assim.

O sr. pensa em trocar de siga?
Eu não concordo com a forma que meu partido trata as alianças. Isso eu já manifestei internamente e, aliás, eu acho que partido tinha que ter candidatura majoritária sempre. Eu lutei para que o partido tivesse candidato a prefeito, até me propus a isso. Tive um diálogo com o presidente do partido, até chamaram minha atenção e pediram para eu voltar, mas eu disse que não volto, pois o partido teria também que proteger o deputado, mas não o faz. A intenção de mudar existe, mas eu queria um perfil de partido que queira fazer parte da sociedade de verdade, e não simplesmente compor sempre em troca de interesses. Tem partido surgindo com esse perfil. O Rede, da Marina Silva, é um deles e, para ser sincero, ele me interessa.

O sr. chegou a receber convite desses partidos tradicionais?
Eu não mudaria de partido para perder o mandato. Surgindo uma nova sigla, eu tenho o interesse de mudar, se o partido tiver essa ideologia.O fato do Rede estar sendo criado em Goiás sob chancela de Martiniano Cavalcante e Elias Vaz...
É com isso que eu não concordo, eu quero ter um diálogo com ela mesmo. O partido vem com uma proposta boa. Tem muita gente se intitulando também, mas as informações que eu tenho do próprio pessoal da Marina é que não tem nada certo com ninguém.

Em relação a 2014, como o sr. tem visto esse pleito, já que o governador sofre desgastes administrativos e políticos? O sr. acredita em uma polarização?
Eu estava lá em Novo Brasil e parei para tomar um café e ouvi as pessoas dizendo: “Eu não voto nunca mais no Marconi”. Isso a gente tem visto em todo lugar. Em Goiânia, nem se fala, pois aqui é diferente. Aqui, para mim, o governador já perdeu. Eu acho que será difícil ele reverter. Na minha ótica, só se a oposição for muito ruim para ele reverter esse quadro.

O sr. é partidário de uma união maior das oposições para lançar um candidato único?
Eu penso diferente. A oposição fala em unidade, mas eu penso que se cada partido de oposição lançar um candidato favorece o segundo turno. Agora, no segundo turno sim, é claro, que tem que haver a união.

Uma eleição com dois candidatos fortes e que poderia ser resolvida no primeiro turno poderia ser favorável ao atual governador?
Pode.
O fato do governo ter maioria na Assembleia e poder levar a CPI para onde ele quiser não dá mais descrédito? Como o sr. acha q seria essa da Segurança?
Seria mais ou menos como foi essa do Cachoeira na Assembleia, embora a do Cachoeira tenha sido propositura da situação para mudar o foco para as prefeituras. Segurança pública é dever do Estado, então não tem como mudar o foco. Tem como investigar os governos passados, mas será que ele tá achando que eu não quero investigar os governos passados? Para mim será ótimo. Eu quero passar a segurança a limpo. Vamos pegá-la de lá para cá e ver quem é que fez o seu papel bem e quem não fez. Vai ser bom, até para a oposição vai ser bom, pois vai mostrar que os avanços em segurança foram feitos em outros governos. Quem fez locação de viatura? Foi o Alcides. Comunicação digital da PM com celular? Alcides Rodrigues. Implantou esse policiamento virtual? Alcides. Quem implantou o subsídio dos militares e estabeleceu isonomia de salário entre militar e civil? Foi o Alcides. O que tem mantido a segurança pública respirando foram as medidas que Alcides Rodrigues fez. O efetivo foi o Iris Rezende. Se for partir para esse lado quem tem a perder é o governo Marconi.








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